II Sarau 1º de Maio: Texto de abertura – CABN

Boa tarde, companheiros e companheiras!

O anarquismo atual tem uma breve história em Joinville. No contexto pós-ditadura civil-militar é possível identificar as agitações anarquistas em meados da década de 1990 até 2016. No primeiro momento, o anarquismo era uma expressão de setores da juventude urbana ligada ao punk, que foi importante por promover a circulação de jornais, informativos e literatura anarquista. Os primeiros anos do século XXI, novamente a juventude se mobiliza em torno do anarquismo. Porém, é uma juventude que divide o seu cotidiano entre o trabalho e os estudos. Neste segundo momento, o anarquismo é retomado por meio das lutas sociais por direito à cidade e do movimento estudantil no ensino médio e universitário.

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É neste contexto que surge um grupo de estudos e ações da militância anarquista, com objetivo de formar de uma organização de intenção revolucionária. Entre os diferentes trabalhos realizados, uma das medidas é retomar a relação do anarquismo com o 1º de maio. A medida tem por intuito central a construção de uma identidade rebelde do povo oprimido, inserido nas lutas sociais. Para isso retomamos o 1º de maio, e lembramo-nos dos lutadores e lutadoras que vieram antes de nós e “cimentaram” nosso caminho até aqui.

Pelo segundo ano consecutivo realizaremos o Sarau 1º de maio. O momento emblemático é a luta de dedicados militantes, de homens e mulheres que, na terra de Obama, à exatos 130 anos atrás, ocuparam as ruas e a Praça de Haymarket, em Chicago, para reivindicar 8 horas trabalho, 8 horas de lazer e 8 horas de descanso. A repressão policial a mando dos governantes, em defesa dos interesses dos patrões, levaram os nossos irmãos ao cárcere e à morte. Os nossos mártires de Chicago.

Assim como lembramos dos nossos mártires de 36. “Não Passarão, Não Passarão, Não Passarão”, mesmo muito menos armados que os fascistas, cantavam trabalhadoras e trabalhadores, na Espanha revolucionária que esse ano completa seu aniversário de 80 anos. De fato foi à revolução que colocou a solidariedade e o internacionalismo operário a prova, abandonada contra o Fascismo, pelas nações Republicanas e pela então União Soviética, já que temiam os desdobramentos rebeldes desses homens e mulheres, coube a mais de 40mil trabalhadores de diversas partes do mundo partirem em solidariedade a terra estrangeira, desses 41 brasileiros. Aqui nossa homenagem esses homens e mulheres, que combateram com os melhores dos sonhos, uma das maiores barbáries do século XX.

Outro objetivo do Sarau é reunir companheiros e companheiras que atuam nas lutas sociais em Joinville e região. É o momento para socializar as expressões artísticas que a companheirada deixa guardada nos cantos do seu quarto, até mesmo numa caderneta surrada na sua mochila. É o momento para dividir o pão e a poesia, o bolo e a canção, a bebida e a fotografia, os biscoitos e o teatro.

Nos últimos anos, o governo petista com o seu neodesenvolvimentismo capitalista tem criado políticas de créditos para favorecer uma economia imaginária aos mais pobres. Enquanto os ataques por conta da Copa do Mundo, dos jogos olímpicos, os ajustes fiscais, a militarização das periferias brasileiras e a criminalização ganhou força nas mãos da governança petista em favor dos patrões, inclusive aos donos dos Bancos, que mesmo em tempos de crise econômica lucram.

Vivemos um momento de crise política, com a ofensiva da grande mídia, partidos de direita e setores ultraliberais ocupando as ruas pelo impeachment. Porém, também vivemos um período de fortes ataques contra o povo oprimido pelas mãos do Governo Federal em aliança com a oposição de direita: ajuste fiscal, ataque às leis trabalhistas e direitos sociais, avanço de leis conservadores contra os direitos das mulheres e pessoas LGBT, aumento da criminalização das lutas e da pobreza. Tudo isso indica um período de acirramento das lutas sociais que não se resolverá no curto prazo, mas que aponta para a necessidade da construção de força popular que venha desde a base e não ceda de forma alguma à conciliação com as classes dominantes.

Subscrevemos a nota produzida pela Coordenação Anarquista Brasileira, que diz:

A direita opositora ao governo do PT se vale da judicialização da política e de toda produção do discurso seletivo e criminalizador da mídia para atuar numa “zona de fronteira” dos marcos constitucionais do direito democrático burguês. Em meio a esse cenário, têm sido comuns entusiasmadas manifestações oportunistas de setores da esquerda anti-governista com pretensões eleitorais em torno da judicialização da política. Ao contrário do que sugere estas manifestações, a judicialização da política não guia para a esquerda, muito menos para uma “revolução política”. Sugerir isso demonstra o retrocesso de expectativas e horizonte estratégico e um esvaziamento de significado que faz do que se entende historicamente por “revolução”, uma infantil bravata para ser agitada de forma torpe nas redes sociais.

(…)

Somos contra este golpe, porque ele implica um corte mais profundo na carne das classes oprimidas e abre caminho para uma correlação de forças ainda mais desfavorável para os de baixo. Mas não admitimos negociar nenhum direito para servir como moeda de troca deste governo moribundo que cavou sua própria cova ao trair as expectativas dos/as trabalhadores/as e ao sancionar a lei antiterrorista em plena crise política. 

Nosso lugar nessa dramática e decisiva disputa é fazer valer a independência de classe como a real alternativa à classe oprimida. Uma alternativa de classe que no curto prazo, marcado pelo trágico desmantelamento organizativo do tecido social, se traduz na mais resoluta solidariedade de classe. Dar disputa ideológica em defesa das lutas que surgem desde baixo e aportar toda solidariedade possível; buscar estender e massificar as greves, ocupações, atos contra as medidas de austeridade e a carestia para, a partir daí, se acumular forças reais para radicalizar a independência de classe, colocando-a como efetivo embrião de poder popular, de um forte e solidário punho a se estender dos oprimidos em todos os rincões do país e golpear de forma altiva e destemida os patrões, governos e também o peleguismo e a traição de classe”.

O falecido professor de História Howard Zinn disse: “Temos que agir, agir, agir; acender o fósforo, acender o fósforo, acender o fósforo, sem saber com que frequência ele vai crepitar e apagar e quando irá arder. Foi isso o que aconteceu no movimento pelos direitos civis e o que acontece em outros movimentos. As coisas demoram. É preciso ter paciência, mas não uma paciência passiva – a paciência do ativismo.”

Frente ao cenário de crise entre a classe política dominante e os interesses econômicos do capitalismo, respondemos com a organização da luta em diferentes espaços em que as opressões acontecem, sem abraçar os interesses dos patrões, da direita ou do governo petista. Nestes locais acendemos o fósforo e continuamos a agir com paciência, passos lentos e firmes. O fogo pode demorar a crepitar com força, mas vai pegar e reduzir a cinzas todas as formas de dominação e exploração. Seguimos assim, buscando construir novos sujeitos históricos e esse novo amanhã que insistimos carregar em nossos corações, que insistimos expressar por meio da ação direta nas ruas, nas praças, nos locais de trabalho, moradia e estudo, assim como nas canções, poemas, palavras, teatro e artes visuais.

Está aberto a segunda edição do Sarau 1º de Maio.

Viva o 1º de maio!

Resistência aos golpes nos direitos!

Lutar, criar, poder popular!

Coletivo Anarquista Bandeira Negra,
integrante da Coordenação Anarquista Brasileira

1º de maio de 2016

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