Após um apertado resultado nas urnas, a candidata petista Dilma sela mais quatro anos para o Partido dos Trabalhadores governar o executivo do país. Como bem sinalizávamos, a saída à esquerda neste período não pode vir das urnas (leia em: Elementos da Conjuntura Eleitoral 2014). Nenhuma das candidaturas majoritárias, inclusive a candidatura vencedora do PT (supostamente à esquerda), se compromete em romper com o capital financeiro ou dar fim aos mecanismos jurídicos que obrigam o pagamento da dívida pública (a absurda Lei de Responsabilidade Fiscal). A nefasta dívida pública abocanha 42% do rendimento anual, e sem mexer neste pagamento, nos rendimentos dos bancos, nenhuma mudança significativa pode vir no campo da educação, saúde ou transporte.
Ambas as candidaturas (PT e PSDB) foram financiadas pelo grande capital (agronegócio, bancos, empreiteiras e indústria alimentícia), ficando claro que sequer fazem questão de esconder ou omitir suas relações umbilicais com o capital.
Ainda no campo da economia, sabemos que esta vem em franca desaceleração. Por um lado, a desaceleração descontenta os de cima, que vem lucrando menos, e por outro começa a gerar mais revolta aos de baixo, que tendo seu consumo baseado no crédito bancário agora estão endividados (57 milhões de brasileiros endividados, destes, 60% endividados no dobro do salário). O rentismo (princípio econômico característico deste governo) sugere como solução para inflação a alta da taxa de juros, que vai na direção contrária do crescimento, afinal aumentar a taxa de juros afasta o capital produtivo capaz de gerar mais e melhores empregos, como favorecer políticas cientificas e educacionais, e ainda atrai os abutres da especulação.
Mais uma vez as classes dominantes sugerem que a solução para o crescimento é cortar na carne dos trabalhadores, cortando direitos, privatizando serviços, aumentando impostos e reduzindo o orçamento já esparso para as garantias sociais (como o Bolsa Família). Como nos 12 anos anteriores, sabemos o que PT fará, atacará os trabalhadores e seus direitos (como já fez privatizando a saúde federal no caso da EBSERH e na reforma da previdência), jogando algumas migalhas aos mais precários (Bolsa Família e Mais Médicos), dando uma aura de governo dos pobres, favorecendo o pacto de classes, por meio de exorbitantes lucros aos de cima e distribuição de migalhas para os miseráveis.
Sabemos que este governo não buscará desconcentrar renda e gerar empregos por meio da expansão dos serviços e obras que beneficiam a população. Sabemos que não irá na contramão das privatizações ampliando os serviços e direitos. Sabemos que a reforma agrária já é parte do passado do PT e não está nos planos do PT da “Carta aos Brasileiros”. Isso porque seu compromisso já foi selado com as classes dominantes, algo que ocorreu bem antes das eleições de 2014.
Politicamente devemos destacar ainda que ambas as candidaturas fazem coalizão com setores conservadores (neopentecostais, ruralistas, etc.) nas bancadas federais (senado e congresso). Pactos estes que devem pesar mais ainda contra os direitos humanos (regulação das drogas, luta antimanicomial, direitos homoafetivos e da mulher, a exemplo do aborto), afinal como apontou o DIEP (Departamento Intersindical de Estudos Parlamentares), esta é a composição da Câmara mais conservadora desde 1964.
No campo da política, o único compromisso mais claro do PT é com a dita reforma política. Reforma esta que não visa colocar mais poder nas mãos da população para decidir questões estratégicas do país, como o pagamento da dívida, privatizações, direitos humanos, mas sim reformular o desgastado sistema político representativo e burguês, visando o reabilitar frente a massa descrente, que no primeiro turno se absteu em cerca de 30% do processo. Nível de abstenção tamanho, que só é menor do que o de 1998 desde a “abertura democrática”.
Poucos dias após a vitória de Dilma, tudo indica que os apelos das ruas não serão ouvidos. O governo afirma que seguirá com o modelo e quando fala em promover o diálogo não pensa em fazê-lo com as massas revoltosas que ocupam as ruas desde 2013, mas com a oposição (PSDB), com o capital, com a mesma mídia que o ataca. O PT faz questão de afirmar que não há cisão na sociedade: “Conclamo, sem exceção, a todas as brasileiras e brasileiros para nos unirmos em favor do futuro de nossa pátria. Não acredito que essas eleições tenham dividido o país ao meio. Creio que elas mobilizaram ideias e emoções às vezes contraditórias, mas movidas por um sentimento comum: a busca por um futuro melhor” (discurso de Dilma no pós vitória).
Nós, anarquistas organizados, ao contrário, continuamos entendendo que este país continua dividido em explorados e exploradores. Por isso, não acreditamos em um projeto que oferece aos explorados o pacto de classes em troca de míseras migalhas. No lado de cá da trincheira, no lado dos explorados, serão mais 4 anos de luta ou o quanto for necessário para que possamos construir uma realidade de socialismo e liberdade. Vemos que só é possível chegarmos à sociedade que queremos por meio de um projeto de classe, o Poder Popular, que não se constrói nos acordos com a classe dominante e seu Estado, nem nas eleições, mas na luta cotidiana, na construção do poder que vem de baixo, nas marchas, movimentos, sindicatos e em todo e qualquer espaço de luta das classes exploradas.
Para nós, a máxima ainda vale: Ou se Vota com os de Cima ou se Luta com os de Baixo!
Posted on 28/10/2014 by CABN
0