Dicas para comunicação digital em tempos de pandemia

Posted on 01/04/2020 by

2


Estamos todas e todos buscando, neste momento, manter o maior nível possível de isolamento social. Nossos maiores inimigos continuam sendo os mesmos, os de cima, que insistem em nos convocar para trabalhar pensando apenas em seu lucro ou em expôr nossas comunidades. Muitas vezes, não oferecem condições mínimas de segurança mesmo para nós que estamos trabalhando no atendimento de saúde. Quem é trabalhadora autônoma ou precarizada precisa urgentemente de distribuição radical de renda, com um salário universal para ficar em casa – mas os governos se negam a pensar em nós, mesmo quando isso custaria uma mixaria perto das quantias repassadas para os bancos ou isenções fiscais das grandes empresas.

Por isso, não nos resta opção senão manter vivos nossos movimentos sociais e aprofundar ainda mais nosso nível de organização popular. Precisamos reivindicar e também coordenar nossas iniciativas de ajuda mútua para sobreviver. Frente a esse cenário, todos os nossos movimentos têm se voltado com intensidade para os aplicativos de conversa, as redes sociais e as reuniões virtuais. Por isso, reunimos aqui algumas dicas de aplicativos, infraestrutura digital e boas práticas de uso, pensando em nossa segurança e também no bom funcionamento das nossas tarefas e decisões.

Segurança

Não podemos esquecer que praticamente todas as redes sociais e aplicativos de conversa que usamos cotidianamente são de grandes empresas que lucram em cima de nossos dados. Não é à toa que essas mega-corporações se tornaram algumas das maiores do capitalismo mundial: a partir do enorme volume de informação pessoal que retiram de nós, conseguem fazer escolhas de marketing e propaganda, prever cenários econômicos, manipular processos eleitorais, vender informações pessoais para governos e mesmo tentar controlar o comportamento de grandes massas populares.

Contra a vigilância e o capitalismo de controle, que só tende a aumentar depois da pandemia, devemos buscar caminhos que tenham como princípios o software livre e não-corporativo, a criptografia, o anonimato e a redução dos dados que disponibilizamos online. Também é importante incentivarmos e construirmos nossos próprios meios populares de comunicação e informação, como o Repórter Popular (https://reporterpopular.com.br/), que neste momento tem trazido o ponto de vista das comunidades frente à pandemia.

Sabemos que, historicamente, momentos de choques como crises ambientais, econômicas ou sociais foram usados para aprofundar nossa exploração e a retirada de liberdades e direitos. A pandemia que estamos vivendo também traz consigo esse risco, de aumento do autoritarismo, das políticas de exceção, da militarização e da vigilância. Por isso, este é um ótimo momento para avançarmos, em nossos movimentos e comunidades, os debates sobre nossas alternativas contra esse processo. Manter as reuniões de nossos movimentos e discutir os meios de nossa comunicação digital é parte importante disso.

Para fazer reuniões online, ao invés de Google Hangouts, Zoom ou Skype, podemos usar a ferramenta jit.si (https://meet.jit.si/ ou https://vc.autistici.org/), que fuciona a partir de software livre e criptografia dos dados. Ela permite chamadas de áudios e vídeo com dezenas de participantes sem necessidade de instalar nenhum software, basta escolher um nome para a sala e compartilhar o link com quem você quiser – que também funciona no celular, mas exige instalação de aplicativo e, em geral, se torna menos seguro pela facilidade de realizar escutas em celulares. É importante não criar salas com nomes óbvios, que possam ser acessados por coincidência por outras pessoas fora de quem você está convidando!

Para trocar mensagens com rapidez pelo celular, ao invés de grupos no Facebook, Whatsapp ou Telegram, vale criar grupos no Signal para seu movimento ou grupo. Para trocar emails, ao invés de usar uma lista no Google Groups e um endereço Gmail, recomendamos fazer endereços de email e listas através do Riseup (https://riseup.net/), que ainda oferece vários outros serviços para comunicação segura. Para escrever coletivamente o texto do seu grupo contra os despejos em meio à pandemia, ou contra a convocação ao trabalho das terceirizadas da sua escola, você pode usar um bloco de notas como o Pad do Riseup (https://pad.riseup.net). Para saber alternativas seguras e livres em serviços mais específicos de internet e comunicação, basta consultar a página Prism Break (https://prism-break.org/), onde se encontra de (quase) tudo. 

A segurança na comunicação não é só para planejar ação direta ou desobediência civil – ela é importante para todos os espaços, até para o grupo de família. Quanto mais dados transitarem criptografados pelas redes, mais escondidas vão estar as mensagens que precisam mais de anonimato! E mais importante do que decorar a lista de softwares citados acima é entender os princípios de seu funcionamento e as suas próprias necessidades de segurança. Pode ser que, daqui a três meses, surjam alternativas melhores, ou esses programas se tornem menos atraentes, ou suas demandas de segurança mudem, etc.

Práticas organizativas úteis (online)

Fazer uma reunião online não é fácil, mas aos poucos vamos pegando o jeito. Assim como qualquer reunião presencial, é fundamental ter responsabilidade na hora de começar, um teto de horário para o término e uma pauta bem definida de conhecimento comum, para que todo mundo entenda o andamento e possa dar suas propostas no momento certo.

O uso da câmera é muito bom para superar a solidão do isolamento, mas em geral exige conexões rápidas de internet, o que nunca é possível entre muitas pessoas, então vale a pena fazer a conversa apenas com áudio. Com poucas pessoas pode ser mais fácil, mas reuniões online de 10 ou 30 pessoas também exigem desligar os microfones enquanto não estamos falando, fazer inscrição de falas, estipular tempo de fala e escolher alguém com o papel de pessoa coordenadora. As inscrições de fala podem ser feitas pelo chat e a pessoa coordenadora pode ir avisando quem está na vez, o tempo decorrido e a discussão em pauta – como as pessoas não estão se vendo, é comum que eventualmente fique todo mundo em silêncio e a reunião pare, ou que a conexão de alguém caia, que seja necessário confirmar se todo mundo está ouvindo, etc. Uma boa relatoria pode ser feita ao vivo em um pad (https://pad.riseup.net), de forma colaborativa, e isso ajuda a pessoa coordenadora a identificar as decisões e encaminhamentos para que todo mundo possa entender e concordar ou votar, se necessário. Para o caso de conexões caindo ou problemas técnicos, há sempre a opção de mandar falas escritas através do chat.

Essas são dicas introdutórias para garantir uma comunicação efetiva e mais segura para nossos movimentos. Muito mais ainda pode ser testado ou criado nas próximas semanas para aprimorar nossas ações. A única coisa que não pode acontecer neste momento é pararmos de nos comunicar e de conspirar juntas – nossas vidas e nosso futuro dependem disso.

Coletivo Anarquista Bandeira Negra,
integrante da Coordenação Anarquista Brasileira (CAB)

Abril de 2020

Posted in: Notas