O Coletivo Anarquista Bandeira Negra volta a atuar na Grande Florianópolis

Posted on 30/07/2017 by

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Nossa organização surgiu em Desterro no ano de 2011, inspirada pelas experiências do anarquismo especifista da Federação Anarquista Uruguaia (FAU) e do Fórum do Anarquismo Organizado (FAO), atual Coordenação Anarquista Brasileira (CAB). Foi, também, fruto da luta de anarquistas que dedicaram seus esforços nessas terras antes de nós e plantaram sementes de rebeldia. De 2011 a 2014, nossa militância anarquista atuou na região na luta pelo transporte público, na luta por moradia popular, no movimento comunitário, na luta feminista, movimento estudantil e sindical.

Nessa curta trajetória em Florianópolis, lidamos com graves casos de violência de gênero por parte de ex-militantes na cidade, entre elas um caso de agressão física e outro de estupro, além da deslegitimação de companheiras militantes e posturas opressoras nos relacionamento pessoais. Esses casos trouxeram à tona o despreparo da organização de lidar com essas situações, particularmente em um núcleo que tinha predominância de militantes homens, onde a questão de gênero não era tratada como uma pauta central. Em meio a essa situação, a militância de Florianópolis se desligou do CABN, organização que manteve a atuação em Joinville.

O machismo se reproduz de forma estrutural na sociedade, o que demanda uma postura combativa, seja na organização política que construímos, em nossos espaços de atuação e também em nossas posturas pessoais, em âmbito público e privado, entendendo a violência de gênero como uma questão política sobre qual devemos nos posicionar e atuar coletivamente. Nossos passos devem ser coerentes com nossos princípios, por isso não silenciaremos sobre a violência estrutural contra as mulheres e quaisquer pessoas que não reivindicam a masculinidade hegemônica e heteronormativa.

Desde 2014, companheiros e companheiras de ambos os núcleos buscam fazer autocrítica desse período e avançar nossa política na questão feminista, no estilo militante, em nossa organicidade e confiança interna. Realizamos um balanço dos problemas acumulados até 2014, criamos instâncias para lidar com situações similares e avançamos em nossos materiais de ingresso e formação, tentando fazer com que esses debates sejam constantes em nosso meio.

Nesse período, companheiras e companheiros com atuação cotidiana nos movimentos populares trouxeram uma nova vida para esse projeto de construir uma organização anarquista de intenção revolucionária. Entendemos que, agora, alcançamos o momento de refundar o Núcleo Grande Florianópolis do Coletivo Anarquista Bandeira Negra!

Grande Florianópolis

Muitos fatores demonstram a importância de atuar nessa localidade para nosso projeto de transformação social. Essa região metropolitana inclui a capital do Estado e cerca de 1 milhão de habitantes. Ela é palco de extrema desigualdade e violência, exposta em cada morador de rua do Centro; cada pessoa idosa que carrega as compras pela escadaria morro acima; cada pescadora que viu o rancho ir ao chão pelo trator da Álamo, Hantei ou da Habitasul; desigualdade e violência expostas em cada ônibus lotado na fila da ponte e cada outdoor escrito em inglês na SC-401, vendendo nossas terras e nossas vidas para os investidores. É a região que vende uma imagem de destino turístico para gays com dinheiro, mas que fecha os olhos para as demandas das pessoas trans, das lésbicas e gays pobres, mesmo quando vimos o assassinato de uma mulher trans e de um homem gay no último ano, assim como diversas denúncias de agressão contra essas pessoas. Região que não tem políticas básicas como abrigos ou banheiros públicos, mas que tem relatos quase diários de violência das Guardas Municipais e da Polícia Militar contra a população em situação de rua. Uma geografia marcada pelo elitismo desde que os cortiços foram derrubados no Rio da Bulha, atual Avenida Hercílio Luz, dando origem às primeiras favelas no Morro da Cruz.

Mas é também território de lutas históricas e de resistência. Território onde seis aldeias indígenas resistem ao genocídio de 517 anos. Território onde o povo negro resiste em pelo menos quatro quilombos, assim como na organização comunitária do Morro da Cruz, na memória da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Negros e também em cada uma das várias batalhas de rap que tomaram a cidade nos últimos anos. Território onde os imigrantes do interior do Estado buscaram vida digna, enchendo o continente de ocupações por moradia no final dos anos 80 e início dos anos 90. Território onde a juventude perdeu a paciência com a exploração privada do transporte público e instigou duas verdadeiras revoltas populares, as Revoltas da Catraca de 2004 e 2005. Episódios que usaram das ruas, barricadas, pedras e chamas para consolidar uma nova cultura política rebelde e uma geração de militantes por todo o país.

Criar um povo forte

Nos últimos anos, essa rebeldia continuou presente nas lutas dessa região. Prestamos respeito e cerramos punhos junto à nova onda de ocupações por moradia que se levantou a partir de 2012; às experiências de resistência nas greves do funcionalismo público; às ocupações protagonizadas pelo movimento estudantil secundarista e universitário; ao crescimento de marchas e ações da luta feminista; à resistência contra a violência policial nos morros e comunidades; à organização da população em situação de rua como sujeito ativo nas reivindicações da região; assim como ao chamado das ruas contra os ataques aos direitos das oprimidas e oprimidos. É verdade que ainda somos uma força mínima frente aos inimigos que queremos enfrentar, mas nos colocamos junto a tantos setores que reconhecemos em resistência, olhamos com vontade e dedicação para o horizonte que buscamos e sabemos quais ombros queremos lado a lado aos nossos.

Nossa corrente anarquista acredita que o combate ao capitalismo, às opressões e ao Estado é tarefa do povo organizado através de seus movimentos sociais e entidades, é dele que surgirá força social para a ruptura revolucionária. É tarefa de toda e todo anarquista construir junto ao povo oprimido da qual faz parte, atuando como elemento que instiga a revolta e defende em seu seio a independência de classe, a ação direta, o combate às opressões, a autogestão e o internacionalismo.

Cabe à organização política o papel de produzir análise de conjuntura desde o ponto de vista libertário, produzir teoria coerente com nossos objetivos, realizar formação política, fazer agitação e propaganda anarquista. Mas nossa tarefa principal é articular forças militantes em cada espaço de resistência e construir coletivamente uma estratégia comum de intervenção, um caminho anarquista que aponte para a revolução social e para o Poder Popular. Convidamos cada companheira e companheiro interessado nesse projeto para somar forças nessa caminhada.

ORGANIZAR A REBELDIA QUE VEM DE BAIXO!
PELO SOCIALISMO LIBERTÁRIO!

Julho de 2017,
Coletivo Anarquista Bandeira Negra
ca-bn@riseup.net

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