Jlle | A arte que queremos neste Sarau 1º de maio

Posted on 22/02/2016 by

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Pelo segundo ano consecutivo realizaremos o Sarau 1º de maio. O Sarau tem por objetivo retomar uma data fundamental na história da construção da ideologia anarquista. O momento emblemático é a luta de dedicados militantes, de homens e mulheres que, na terra de Obama, em 1886, ocuparam as ruas e a Praça de Haymarket, em Chicago, para reivindicar 8 horas trabalho, 8 horas de lazer e 8 horas de descanso. A repressão policial a mando dos governantes, em defesa dos interesses dos patrões, levaram os nossos irmãos ao cárcere e à morte. Os nossos mártires de Chicago.

Outro objetivo do Sarau é reunir companheiros e companheiras que atuam nas lutas sociais em Joinville/SC. É o momento para socializar as expressões artísticas que a companheirada deixa guardada nos cantos do seu quarto, até mesmo numa caderneta surrada na sua mochila. É o momento para dividir o pão e a poesia, o bolo e a canção, a bebida e a fotografia, os biscoitos e o teatro.

No próximo 1º de maio nos encontraremos para sorrir, amar, refletir, até mesmo para enxugar lágrimas por conta da pesada rotina repressiva encabeçadas pelos governos e patrões. O Sarau é momento dos lutadores e das lutadoras, desde as crianças aos velhos e velhas. Trocamos olhares silenciosos de cumplicidade militante, fazemos dos nossos corações reservas de liberdade e igualdade.

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Apresentação teatral durante o Sarau 1º de Maio em 2015. A foto é do Coletivo Metranca.

O processo de organização da atividade é composto por muito trabalho voluntário. Encontramos forças entre os dias e as noites de intensas cores vermelhas e negras que guiam os nossos corpos e mentes nas ruas, nas praças, nos bairros, nos postos de trabalho e estudo. Definimos coletivamente quem fará o quê, as razões para fazer, o que será possível oferecer e os objetivos. É uma prática baseada na igualdade e liberdade, sem hierarquia. Ações que definimos como autogestão, solução que oferecemos em pequena medida como alternativa para o mundo competitivo do capitalismo. Frente à dominação do Estado e do capitalismo, resistimos e construiremos um amanhã baseado na autogestão.

Ao abordamos a companhareirada com objetivo de convidarmos para apresentar as suas expressões artísticas no Sarau, é comum ouvirmos: “O que escrevo não tem relação com o tema do eventoouserá que a minha música se encaixa com a proposta?”. Compreendemos as inquietações, as dúvidas. O que nos motiva a convidar não objetiva moldar quais as expressões são corretas para a luta popular. Porém, algum critério é necessário adotar; o nosso critério é criar um ambiente arejado para militância e setores próximos do CABN apresentarem a sua arte.

Quando convidamos os irmãos e as irmãs de classe, não temos por objetivo canções que remetam aos mártires de Chicago, menos ainda que as manifestações artísticas expressem segundo as regras de realismo socialista revisto. Não pretendemos ditar as formas, os conteúdos e a estética. O principal objetivo é envolver todos e todas ao que temos como parte da nossa constituição enquanto sujeitos históricos, as expressões atuais que contribuem em nossa identidade como povo oprimido. Como a arte deve compor o Sarau 1º de maio? Neste momento, a resposta é que a arte pode vir de quem entrega a sua vida na luta por um mundo sem mais opressões. É esta arte que queremos neste Sarau 1º de maio.

Por Flavio Solomon, militante do Coletivo Anarquista Bandeira Negra