O país está sendo tomado por mobilizações na luta pelo transporte público. No início dessa semana, manifestações gigantescas tomaram Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e dezenas de outras cidades. O Congresso em Brasília foi ocupado por manifestantes, assim como a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Até agora, Porto Alegre, Goiânia, Natal, Recife e outras cidades já conquistaram a redução da tarifa, mas a perspectiva de vitória é grande em várias outras cidades.
Um dos fatores que deu grande força às mobilizações foi a criminalização do protesto e a resposta brutal da polícia. Centenas de companheiras(os) foram detidos e liberados após pagarem fianças exorbitantes, uma tentativa de silenciar e intimidar as reivindicações populares. A violenta repressão policial foi a fagulha para um povo em estado de barril de pólvora, e as manifestações vem se fortalecendo.
Os setores reacionários e a grande mídia, que criticaram e criminalizaram duramente as manifestações, agora retrocedem pela força do povo nas ruas. Sua estratégia tem sido muito clara: buscam “domesticar” as manifestações pregando um pacifismo inerte e pautas genéricas que não possibilitam conquistas concretas .
O povo não esteve dormindo até a semana passada. Nenhum dos nossos direitos foram dados de presente, foram conquistados. Os capitalistas lucram com a mercantilização dos direitos sociais (saúde, educação, transporte, etc.), e o Estado e governos impulsionam este estado das coisas. Discursos por “um país melhor”, “melhor uso dos impostos” ou “contra a corrupção” erram o alvo, porque ignoram a natureza do Estado capitalista. A corrupção é parte integrante deste sistema, que criou as leis para manter o domínio das classes dominantes. Quem reclama do descumprimento das regras do jogo, no fundo, está legitimando o funcionamento do jogo: injusta não é apenas a corrupção, mas todo o sistema capitalista, baseado na exploração da classe trabalhadora e na opressão.
Precisamos pensar nossas pautas e lutar objetivamente contra os problemas mais sentidos pelo povo. Nossa solidariedade é entre os de baixo. Por isso entendemos que não estamos aqui para cantar hinos ou levantar a bandeira do país: o nacionalismo é um instrumento de conciliação entre as classes, o que nos reúne com nossos inimigos sob a mesma bandeira (os empresários do transporte e o prefeito também são brasileiros e “contra a corrupção”).
Florianópolis possui um grande histórico de luta pelo transporte, como as Revoltas da Catraca de 2004 e 2005, quando a luta popular também conquistou a derrubada de aumentos na tarifa através da ação direta, com o povo nas ruas. A cidade criou uma cultura de reivindicação sobre essa pauta, que culminou na defesa da Tarifa Zero – modelo em que o transporte público é gratuito, financiado pelos setores mais ricos da sociedade e com controle popular. A força das manifestações em todo o país e o acúmulo da discussão sobre transporte na cidade colocam a Tarifa Zero como nosso objetivo estratégico, uma possibilidade concreta de conquista.
Estamos na rua não apenas na luta pela Tarifa Zero, mas também contra a criminalização da reivindicação popular, em solidariedade às lutas nas outras cidades! Dia a dia estaremos construindo nossas ferramentas organizativas, e acumulando força social, pois violento é o sistema que excluiu a maioria da população das riquezas produzidas; violento é um sistema que mesmo abundante ainda reserva a miséria, a fome e a escassez à população pobre; violentos são os depejos e a repressão policial decorrentes das obras de megaeventos como a Copa e Olimpíadas. Violenta é a realidade a que o povo está submetido!
É o momento de fortalecer a organização dos oprimidos, através de nossos movimentos sociais, entidades de trabalhadores e de estudantes, espaços comunitários e culturais. Somente nossa articulação, pautada na independência de classe, é que poderá criar força para influir nos rumos da sociedade. Isso é um requisito para termos capacidade de resistir aos ataques que recebemos das classes dominantes e acumular forças para virar a balança pro nosso lado, avançar nas conquistas rumo à sociedade sem classes, de liberdade e justiça. As possibilidades e limites das manifestações no país estão em disputa: é hora de irmos às ruas!
Lutar, Criar, Poder Popular!
Renaldo
19/07/2013
Prezados, não entendo a proposta de tarifa zero no movimento anarquista. Hoje, a proposta é que o transporte público seja pago pela classe rica. O movimento, como vcs explicam, permitiria acumular forças para superar a sociedade de classes, rumo a uma sociedade sem classes. Bem, numa sociedade sem classes, ou seja, todos da mesma classe, quem paga o transporte público? Ora, todos pagam, na forma de tributos ou de tarifa do transporte, como é hoje. E se estamos falando de tributo, tem que existir um Estado para cobrar e custear o serviço público, não é mesmo? Então, temos anarquismo convivendo com estado?
JG
19/07/2013
É simples, existe um caminho pra se chegar da sociedade atual ao mundo que buscamos. Esse caminho envolve a luta por reformas como estratégia pra criar poder popular, organização do povo e ideologia revolucionária.
Almejamos um dia o transporte gratuito porque será operado pelos próprios trabalhadores, como contribuição a uma sociedade de seres humanos livres que cooperam e garantem a abundância de todas e todos, em igualdade. Porém, até lá existe um caminho gigantesco.
O Estado pode garantir, hoje, alguns direitos sociais que são extremamente importantes para a vida da classe trabalhadora. Não há contradição em lutar pela ampliação desses direitos, se temos um horizonte de substituir o Estado pela auto-organização da classe, que não chegará do dia para a noite. Além do mais, a tarifa zero pressupõe um controle popular sobre o sistema de transporte, manipulado hoje pela iniciativa privada.
As organizações da Coordenação Anarquista Brasileira trabalham em prol de um programa mínimo de lutas para o período atual, que possam aglutinar forças para um processo radical de transformação: http://www.anarkismo.net/article/23096