Para resistir à pandemia, ajuda mútua e solidariedade!

Posted on 22/03/2020 by

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Nós, do Coletivo Anarquista Bandeira Negra, acreditamos que os espaços de luta são sementes de organização popular. Neste momento de pandemia, em que muitas das tarefas cotidianas da militância se adiam, é preciso fortalecer a ajuda mútua e nossa capacidade de rodear de solidariedade a quem mais precisa, procurando diminuir o impacto dessa doença infecciosa nas periferias, comunidades, aldeias, quilombos, casas de internação, espaços de reclusão e em todos os espaços em que é difícil garantir o isolamento. 

O novo coronavírus avança sobre o país, com o número de casos aumentando dia a dia. Em Santa Catarina temos mais de vinte casos confirmados, ao lado de centenas de suspeitos, com transmissão comunitária confirmada no sul do estado – quando não se sabe de quem a pessoa contraiu o vírus. Logo o número de casos irá esbarrar na capacidade do Sistema Único de Saúde (quantidade de leitos, vagas de UTI e equipamentos médicos) e não haverá como atender todas as pessoas que necessitarem. Por isso, é ainda mais necessário reafirmar a urgência em se revogar o Teto de Gastos do Governo (Emenda Constitucional 95) e garantir mais recursos para o SUS.

No Brasil, apesar dos primeiros casos terem vindo de pessoas que viajaram para o exterior, as primeiras mortes possuem recorte de classe. Em São Paulo, um porteiro que não sabia que estava com coronavírus foi a primeira pessoa a falecer no país, seguida por uma trabalhadora doméstica no Rio de Janeirosua patroa havia viajado para a Itália, testou positivo para a doença no Brasil e não a informou.

Em tempos de pandemia, mais uma vez são os de baixo que pagam a conta com suas vidas em risco. Nas disputas promovidas pelo capitalismo, com uma lógica individualista, regida por uma suposta lei da sobrevivência onde quem tem mais recursos sobrevive. O isolamento para os ricos pode ser feito no conforto de casas espaçosas e com cômodos para isolar possíveis doentes, porém a maior parte da população brasileira não vive essa realidade. Nas periferias, muitas pessoas dividem pequenos espaços, algumas vezes sem a ventilação adequada, com casas próximas umas das outras. Em alguns locais, as comunidades ainda têm que lidar com a falta de água, comprometendo qualquer recomendação sanitária para o momento, como tem acontecido no Residencial Trentino em Joinville e na Ocupação Contestado, na Grande Florianópolis.

Além disso, com as escolas de todo o estado com aulas suspensas, muitas crianças ficaram sem acesso à alimentação, realidade de famílias da comunidade do Monte Cristo de Florianópolis. Isso afeta também mães e pais que trabalham na informalidade e ficam impossibilitadas de garantir alguma renda sem local para deixar as crianças, o que reafirma a necessidade de garantia do direito ao isolamento social de forma remunerada para esse grupo da classe trabalhadora.

Em Joinville, os movimentos sociais e organizações comunitárias e políticas cobram do prefeito municipal Udo Dohler um plano de ação de assistência social para a população em situação de rua, imigrantes e a distribuição de cestas básicas para as famílias com crianças e adolescentes matriculados na rede pública de educação. Também é urgente a elaboração de material informativo sobre os cuidados para chegar ao conjunto da população das periferias da cidade. Outro apontamento é a urgência fechamento de todas as fábricas que continuam operando normalmente, como Tigre, Dohler e Whirpool.

A população originária também é vulnerável nesse cenário. Desde a invasão europeia nesses territórios, os povos originários sentem o genocídio induzido pela ganância, pelo racismo e também pelas doenças trazidas pelo invasor. Nessas comunidades, a vivência comunitária faz a opção de isolamento ser muito diferente do contexto das moradias na cidade, é difícil não haver interação entre as famílias da própria aldeia. Há pessoas com mais de 90 anos, outras que dependem de seus trabalhos fora das aldeias para obter renda. A impossibilidade de trabalhar impacta em menos recurso para estocar alimentos e produtos de higiene, o que faz com que contribuições externas sejam fundamentais nesses contextos.

As comunidades tradicionais também sentem diferente o isolamento pela convivênia comunitária. O Quilombo Vidal Martis, no norte da ilha de Florianópolis, vive a retomada de seu território por meio da ocupação do camping do Parque Estadual do Rio Vermelho. Em meio a reinvidicação pela titulação da terra e a explosão do COVID-19, é importante haver garantia de alimentos, materiais de limpeza e higiene, rodeando o quilombo com solidariedade para que resista a esse momento e siga forte na luta.

É necessário que estejamos atentas também sobre aos locais e povos mais precarizados nesse momento de pandemia. É preciso que haja distribuição de renda universal para atender as necessidades de trabalhadores precarizados, pessoas em situação de cárcere e de rua, além de congelamento dos preços e contas – entre outras propostas que fizemos enquanto Coordenação Anarquista Brasileira (CAB) para este período (https://bit.ly/3a63hqo). Também chamamos atenção para as greves selvagens, aquelas construídas por fora da estrutura sindical e da tutela do Estado, que estão estourando pelo país nos locais onde os patrões colocam nossas vidas em risco para manter seu bolso cheio.

Nós, militantes do CABN, defendemos o apoio mútuo entre os povos oprimidos como importante princípio para esse contexto. Como anarquistas, entendemos que essa rede, junto com a solidariedade de classe, é fundamental para a construção das lutas a curto, médio e longo prazo. Devemos romper com a lógica individualizada do lucro capitalista e agir no mundo para construir formas de apoio concretas às comunidades mais vulneráveis.

No início do século XX, antes de termos previdência ou saúde públicas, as trabalhadoras se organizavam em sociedades de ajuda mútua e através delas garantiam uma vida mais digna a doentes, idosas e às perseguidas pelos patrões. Além de enfrentar a dureza da vida em um momento de escassos direitos para a classe trabalhadora, as sociedades de ajuda mútua foram uma forma de organização e estreitamento de laços fundamentais para lutas que se seguiram, como a Greve Geral de 1917. Também constituíram os primórdios de alguns de nossos sindicatos e de políticas públicas conquistadas pela classe. Convocamos a memória de toda a solidariedade entre as oprimidas e a ajuda mútua entre nós para passarmos por esse momento de crise social mais organizadas e com menos perda entre os nossos.

Ações pequenas podem fazer a diferença e não estamos falando de voluntarismo, nem caridade. Essa é uma oportunidade de colocarmos nossa ideologia em prática e aprofundar a organização popular, mesmo em tempos difíceis de isolamento e medo. Listamos abaixo algumas iniciativas em diferentes cidades do estado, principalmente Florianópolis, onde os próprios movimentos e comunidades já se articularam para tentar garantir nossas condições materiais e saúde coletiva. Muitas outras estão se formando neste momento, nos morros, bairros, sindicatos, universidades e coletivos. É urgente que o conjunto dos movimentos sociais e organizações políticas de Joinville criem uma rede de apoio mútuo para os setores oprimidos da cidade, como a população em situação de rua, imigrantes, a Comunidade Jardim das Oliveiras, o Residencial Trentino e outros que poderão surgir. Enquanto organização política anarquista, nos colocamos a disposição de construir a rede.

As redes de ajuda mútua podem organizar arrecadações de dinheiro, comida e produtos de limpeza; ajudar as pessoas em grupo de risco com suas compras; formular propostas e reivindicações de medidas públicas; fortalecer os piquetes nos locais de trabalho que ainda não conseguiram parar; e trabalhar com a propaganda nas redes sociais, divulgando informações sanitárias, reivindicações políticas e as próprias iniciativas de ajuda mútua. É isso que propomos para este momento: cercar de solidariedade nossas comunidades e criar as estruturas para uma nova sociedade!

EM DEFESA DO SUS E QUE OS CAPITALISTAS PAGUEM A CONTA DA PANDEMIA!

AÇÃO DIRETA DAS TRABALHADORAS EM DEFESA DA NOSSA SAÚDE!

AJUDA MÚTUA ENTRE NÓS E GUERRA AOS PATRÕES!

 


Apoio às famílias Kaigang que estavam em Florianópolis

Após a primeira campanha de arrecadação, foi possível o retorno das famílias Kaigang que estavam vivendo em um terminal desativado de Florianópolis para suas aldeias nos estados do Paraná e Rio Grande do Sul. Ainda assim, esses locais necessitam de apoio financeiro durante a pandemia. Dados da conta para depósito: 

Caixa Econômica Federal
Agência 3113
Conta Poupança 00008981-2
CPF: 0 41 786 990-83
Titular: Cassiano da Silva

Sugestão de envio de comprovante de depósito no facebook de Joana Freitas

Mais informações: https://bit.ly/33OcbGV

Apoio às comunidades Guarani do Morro dos Cavalos

A necessidade pricipal, nesse momento, é estocar alimentos e produtos de higiene nas aldeias. As pessoas NÃO devem ir até a comunidade sem autorização das lideranças, as doações devem ser feitas por transferência bancária na seguinte conta: 

Banco do Brasil
Agência 5362-7 (ERRATA: Anteriormente divulgamos o número errado da agência, o número certo é 5362-7)
Conta Corrente 2450674
Titular: Eunice Antunes

Apoio à retomada do Quilombo Vidal Martins (Rio Vermelho)

É possível realizar uma contribuição financeira diretamente na conta:

Caixa Econômica Federal
Agência 0879001
Conta Corrente 00027320-0
CPF 049.829.779-92
Titular: Helena Jucelia Vidal Oliveira 

Mais informações: http://bit.ly/2QphOWc

Apoio às comunidades da região do Monte Cristo

Entrar em contato com:

Jaqueline da Cooperativa de Mulheres – 48 9 8812 1209
Cíntia da Revolução dos Baldinhos – 48 98421 4359

Ou realizar depósitos bancários através da conta:
Caixa Econômica Federal
Agência 1875
Conta Corrente 16889-3
Operação 13
CPF 059.076.709-75
Titular: Cíntia Cruz

Mais informações: http://bit.ly/3b4w3Yw

Apoio ao Movimento de Moradia e Ocupações Urbanas da Grande Florianópolis

Para dar suporte às famílias mais vulneráveis das ocupações, comunidades, indígenas e população em situação de rua, quilombolas. Necessidade de cestas básicas, alimentos perecíveis (carne, legumes, entre outros), produtos de higiene e limpeza, fraldas descartáveis, recarga de gás. Doação por valores em dinheiro também podem ser feitos. Entrar em contato com:  

Elisa Jorge – 48 9 8413 3043
Ruy Wolff – 48 9 9674 0451
Ci Ribeiro – 48 9 9942 1196

Apoio à População em Situação de Rua de Florianópolis

Pedido de doações em dinheiro (modalidade preferencial para evitar deslocamentos); alimentos em geral; produtos de higiene pessoal e limpeza; roupas de cama e banho (podem ser usadas mas devem estar limpas); pratos, talheres, copos, guardanapos e marmitas descartávies; voluntários (entre em contato para formato, protocolos e precauções). A conta para depósitos é:

Banco Inter (077)
Agência 0001
Conta Corrente 4502688-2
Código do Operador 67539534
Titular: Empreenda Social Produções Ltda
CNPJ: 35.361.373/0001-72

Endereço para entrega de compras on-line:
Av. Gov. Gustavo Richard, 5000 – Centro, Florianópolis – SC, 88010-290
Aos cuidados da Secretaria Municipal de Assistência Social

Contatos:
gruporepor@gmail.com
Cris Resende – 48 99972-7930 (Whatsapp)
Isabela Barbosa – 48 99130-7886 (Whatsapp)
José Eduardo – 48 99908-0700 (Whatsapp)
Ruy Ricardo – 48 99113-0117 (Whatsapp)
Sheila Belli – 48 99108-7711 (Whatsapp)

Apoio às comunidades Guarani na região de Araquari, Barra do Sul e Guaramirim

Secretaria Especial da Saúde Indígena/MS
Polo base Araquari Rua José Wenceslau Neves, 37 – Centro, Araquari

O SESAI está recebendo doações de cestas básicas para distribuir para as dez aldeias da região.

Apoio às comunidades de imigrantes haitianos e africanos em Joinville

O Coletivo Ashanti de Mulheres Negras de Joinville está articulando para doação de cestas básicas para as famílias cadastradas é fazer contato por meio da página do Ashanti.

Mais informações: https://bit.ly/3dlI1Pp

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